Saudações.
Hoje continuo a segunda parte da nossa série “O que é RPG?”, desta vez o tema escolhido é o sistema de vitória e derrota que há em um RPG, também seu sistema de regras.
Um RPG não é um jogo de ação linear como estamos habitualmente acostumados. Em um MMORPG, por exemplo, você adentra em um universo pré-definido por gráficos, sons, monstros e NPC’s onde alguns dos únicos elementos imprevisíveis são as ações dos outros jogadores, que por sua vez também são limitadas por características como nível, equipamentos e poder em relação aos adversários.
Em um RPG de mesa a ação não possui esta evolução linear, sistemática e rígida. Nele todos os elementos são imprevisíveis, o que torna este estilo de jogo uma verdadeira arte. No Role Play todas as ações “gráficas” e “sonoras” acontecem em sua mente, o que dificilmente são repetidas. Os personagens possuem limitações, porém em cada um há um elemento que pode mudar toda a sorte da campanha, este elemento chama-se criatividade e é parte fundamental de cada um dos jogadores.
Lembro bem de minhas aventuras quando eu e meus amigos nos reuníamos todas as tardes de domingo numa grande Lan House de Natal/RN para jogarmos a mais surpreendente campanha de RPG que pude participar. A campanha era ambientada sobre Vampiro: Dark Age e reunia mais de 100 jogadores, distribuídos em diversas mesas. Cada mesa possuía um Mestre (Narrador) e em média 10 jogadores. Em cada uma das mesas havia a representação de uma civilização antiga divididas em: Egito, Roma, Babilônia, Pérsia, Grécia e Hebreus, na qual eram interligadas e cada jogador tinha a opção de viajar para uma outra civilização e passava a jogar em outra mesa, pois as Aventuras eram narradas de forma que os Mestres agissem de uma forma comum, permitindo esta interatividade. Encontravamos literalmente novos mundos, pois haviam narradores bonzinhos e também os hardcores, como eu por exemplo, que em uma campanha de Trevas - Templários - coloquei uma legião de demonios em uma sala para enfrentarem um amigo que interpretava um exorcista. Bem, ele teve de rasgar a ficha após algumas rodadas e começar um novo personagem.
Creio que a verdadeira vitória para um jogador de RPG é adquirir a capacidade de desprender-se de si próprio para, naquele momento de jogo, ser alguém totalmente diferente. Um ator segue os textos que alguém lhe deu para encenar seu papel num teatro com uma platéia atenta para aplaudir ou vaiar. No Role Play Game o jogador encena um teatro da mente onde o script é somente sua inteligência, habilidade de expressão e capacidade de se adaptar constantemente a novas situações e com um agravante: neste teatro a platéia não perdoa erros, pois assim como a vida real, erros trazem sempre consigo conseqüências, por vezes eternas.
Tudo em um Role Play Game é imprevisível, por isso costumamos falar que nele não há vencedores ou perdedores, apenas jogamos.
É sobre este sistema de vitória e derrota que irei falar hoje na segunda parte de nossa série.
Uma característica, que não se apresenta de forma evidente em um jogo de RPG, é a resposta para a pergunta: "quem ganha o jogo"? O senso comum nos diz que todo jogo é uma disputa, e precisa existir um vencedor. Porém, essa noção não se aplica em um jogo de RPG, uma vez que ele não é focado em uma disputa entre os jogadores - justamente o contrário, RPG é um jogo com ênfase na cooperação. Em um jogo de RPG os personagens fazem parte de um grupo, e esse grupo precisa ser unido e trabalhar em conjunto para ter sucesso em suas aventuras. No entanto, essa explicação só é válida para os personagens dos jogadores. Pelas características do jogador "narrador", pode se pensar que ele estaria jogando contra os demais jogadores, mas essa idéia também está errada.
O papel do narrador, dentro de um RPG, é ser um contador de histórias, tudo dentro do jogo acontece de acordo com sua narração. Se ele quiser, ele pode fazer com que todos os personagens sejam presos, fiquem doentes ou mesmo fiquem ricos em apenas um instante, basta apenas ele narrar isso acontecendo. O que de fato ocorre, é que o narrador cumpre um papel de árbitro e não de adversário. Ele não joga "contra" os jogadores, ele cria uma história na qual os personagens desses jogadores possam se desenvolver. Ele também não joga "a favor", um narrador precisa sempre ser imparcial para manter um bom andamento da aventura. Apesar de propôr os desafios e representar todos os inimigos do jogo, ele não faz isso com o objetivo de derrotar os jogadores, mas de oferecer um bom ambiente para a partida. Como o objetivo do jogo é a diversão, ele pode, em determinadas vezes, favorecer um ou mais jogadores, ou mesmo penalizar outros, para que o jogo fique equilibrado e divertido para todos.
Então pode surgir outra pergunta: "os jogadores disputam entre si"? A resposta mais exata seria dizer: "depende". Na maioria dos jogos, todos os jogadores são parte de um único grupo. Pense no grupo de RPG como um grupo de heróis de um filme de ação, ou melhor ainda, como jogadores de futebol. Se o narrador é semelhante a um árbitro, os jogadores são semelhantes a um time. Todos devem agir em conjunto para conseguir enfrentar os desafios que o narrador oferece. De forma geral, existe alguma disputa, assim como jogadores de um mesmo time disputam entre si para ver quem é o mais habilidoso, ou faz mais gols. No entanto, eles devem agir em conjunto, senão a vitória na aventura pode se tornar algo impossível de alcançar.
Por outro lado, existem exceções a essa regra. Em determinados sistemas, ou mesmo se os jogadores assim desejarem, o narrador pode criar aventuras nas quais os jogadores disputam entre si pelos mais variados motivos. Talvez cada jogador seja um mercenário contratado para resgatar uma mesma pessoa, ou então todos sejam exploradores de uma ruína antiga tentando conseguir o mesmo objeto. Existe uma infinidade de temas possíveis, mas estas situações não representam o estilo de jogo mais comum nas partidas. A maioria esmagadora dos jogos exige cooperação entre todos os jogadores.
Qual seria, então, a resposta à pergunta: "quem ganha o jogo"? Na visão dos jogadores de RPG, todos ganham. O objetivo de cada aventura é superar os desafios e, quando os jogadores conseguem fazer isso, eles ganham pontos de experiência e histórias na vida de seu personagem. Essa é a premiação pela "vitória" em uma sessão. Todos os jogadores que conseguem passar pela aventura são considerados vencedores. Pode soar um pouco estranho para quem não está acostumado a um jogo em que todos os jogadores podem vencer, mas depois que se entende a mecânica do jogo é algo natural.
Na próxima semana continuaremos nossa série.
Até lá!
@MorraVadia
• O que é RPG? Parte I - Conceito
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